Esse artigo foi escrito por Isabel Opice e publicado originalmente no Blog da MGov em 4 de abril de 2016. Acesse o link original.

 

A Prova Brasil é uma avaliação nacional censitária da rede pública, aplicada ao 5° e ao 9° ano bienalmente, cujo resultado é um dos indicadores utilizados no cálculo do Ideb (Índice de Desenvolvimento de Educação Básica). Além das questões de português e de matemática, fazem parte também da avaliação questionários contextuais específicos para professores, diretores e alunos. As perguntas abordam temas variados, como a utilização de recursos pedagógicos para os professores, a infraestrutura das escolas para os diretores e a estratégia de estudo para os alunos.

Os questionários ajudam a entender como cada um dos entrevistados enxerga qualitativamente o ambiente escolar. Na última Prova Brasil, realizada em 2013, foi perguntado aos professores qual percentual de alunos eles acreditavam que iriam concluir o ensino fundamental, o ensino médio e que iriam ingressar no ensino superior. As respostas possíveis eram: poucos alunos, um pouco menos da metade dos alunos, um pouco mais da metade dos alunos e quase todos os alunos.

O percentual de professores que respondeu “quase todos os alunos” no 5° ano para cada um dos três níveis de ensino foi de 68%, 47% e 13%, respectivamente. Olhando para as estatísticas atuais, ainda que por meio de variáveis diferentes, temos que: 69% dos alunos concluem o Ensino Fundamental até os 16 anos, 53% concluem o Ensino Médio aos 19 anos e 16% da população entre 18 e 24 anos estava matriculada no Ensino Superior (Fonte: Anuário da Educação 2015).

Não existem informações sobre as expectativas passadas dos professores, o que possibilitaria entender o quanto as previsões explicam o que de fato ocorreu. A comparação, no entanto, sugere que os professores de hoje não esperam que a formação dos seus alunos no futuro seja muito diferente do cenário atual.

Outro indicador disponibilizado pelo INEP, conjuntamente com as notas e o questionário da Prova Brasil, é o de Nível Socioeconômico das Escolas (INSE). Esse é calculado “a partir da escolaridade dos pais e da posse de bens e contratação de serviços pela família dos alunos”, sendo que a classificação das escolas varia entre 7 categorias.  No nível mais baixo o aluno possui em sua casa bens elementares, como televisão, geladeira ou rádio e o os pais não completaram o ensino fundamental. Já na categoria máxima, há na residência dos alunos bens suplementares como carros e TV por assinatura e os pais completaram a faculdade.

A condição socioeconômica das famílias exerce influência no aprendizado de diversas formas, como por exemplo, permitindo acesso às atividades que estimulem o estudo, expondo crianças a um vocabulário mais rico ou ainda incentivando a presença dos filhos na escola. Dessa forma, é conhecido na literatura de economia da educação, a correlação positiva entre o nível socioeconômico e o desempenho escolar. As escolas que se enquadram na categoria mais alta são, em média, aquelas com melhor desempenho.

A tabela abaixo traz um recorte das expectativas dos professores de acordo com o INSE das escolas. Novamente, os valores são referentes ao percentual de professores que respondeu “quase todos os alunos”:

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Tabela1

 

Como esperado, o aumento do INSE e a expectativa dos professores caminham juntos. A correlação entre desempenho e INSE ajuda a explicar o resultado, quanto mais altas as notas dos alunos, maior a percepção de que eles seguirão estudando. É triste e chama atenção que menos de 50% dos professores que lecionam em escolas com nível socioeconômico abaixo do médio acreditam que seus alunos concluirão o ensino básico, ainda mais considerando que as expectativas estão, em alguma medida, alinhadas com a realidade.

Quando comparamos apenas escolas com mesmo nível de nota na Prova Brasil, esse padrão não se repete. A tabela abaixo é exatamente igual a anterior, mas nela está apenas uma amostra de 10% das escolas que fizeram a prova e obtiveram níveis de proficiência semelhantes (a notas desse grupo de escolas variou entre 190 e 198 pontos na escala SAEB e representa o 5° decil da amostra de escolas).  O objetivo aqui é entender como a expectativa do professor varia em relação ao nível socioeconômico, quando o desempenho da escola permanece constate.

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Tabela2

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Para esse recorte, conforme o nível socioeconômico melhora, a expectativa dos professores não só não aumenta, mas também diminui algumas vezes. Qual seria a explicação para esse resultado? Outras variáveis que não estão sendo consideradas, como por exemplo a região ou o Estado ao qual a escola pertence, poderiam ajudar a explicar a tabela. Talvez os alunos mais desfavorecidos sejam mais esforçados e por isso os professores depositam neles maiores expectativas. Outra possibilidade é que a expectativa não depende do nível socioeconômico, apenas do desempenho da escola.

Existe uma infinidade de dados como os citados aqui à disposição para análise. Explorar essas informações auxilia na compreensão do cenário da educação e também faz com que surjam novas perguntas e questionamentos que antes não eram feitos.  Provavelmente as respostas de estudos – tanto os preliminares como esses, quanto os mais avançados – não serão fechadas. Mas essas podem ajudar a entender – dialogando com outros campos do conhecimento -padrões, dificuldades e também avanços da educação no Brasil.

 

Isabel Opice é economista e em seu mestrado envolveu-se com estudos sobre educação no Brasil por meio do uso de dados.