* Texto publicado originalmente na Gazeta do Povo (PR), em 27/01/2017.

 

O estado do Paraná tem um motivo para comemorar a divulgação dos novos dados de aprendizagem dos seus estudantes dos anos iniciais do ensino fundamental: em 2015, o 5.º ano paranaense alcançou o maior porcentual de alunos com aprendizado adequado em Matemática do país (60%) e o segundo maior porcentual em Língua Portuguesa (68%). Os números foram elaborados pelo Todos Pela Educação com base nos dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).

Esses indicadores avançaram em relação a 2013, crescimento que ocorreu na maior parte dos municípios do estado. Em Língua Portuguesa, o porcentual de alunos com aprendizado adequado aumentou quase 9 pontos. Em Matemática, o número de municípios com menos de 50% dos estudantes com aprendizagem adequada caiu de 220 em 2013 para 171 em 2015. Já o número de municípios com mais de 75% dos alunos com aprendizado adequado praticamente dobrou desde a última edição, chegando a 34 municípios (em 2005, nenhum chegava a esse patamar).

Ao fim do 9.º ano do ensino fundamental, entretanto, a situação é outra. É como se estivéssemos ganhando o jogo no primeiro tempo, mas levando a virada no segundo. O Paraná apresenta em Língua Portuguesa o pior índice de aprendizagem adequada entre os estados da Região Sul. Em Matemática, somente 20% dos alunos têm aprendizado adequado. Os indicadores cresceram em relação a 2013, e isso ocorreu na maioria dos municípios, mas o avanço foi tímido: nove em cada dez municípios paranaenses ainda têm menos de 25% dos estudantes do 9.º ano com aprendizagem adequada em Matemática.

Por que os resultados positivos do 5.º ano do ensino fundamental não alcançam o fim dessa etapa? Como os governos municipais e estadual podem aumentar a velocidade de avanço dos porcentuais de estudantes que alcançam os objetivos de aprendizagem e garantem seu direito a uma educação de qualidade?

O desafio dos anos finais do ensino fundamental é, em todo o país, multifatorial. Os resultados refletem as defasagens acumuladas ao longo de todos os anos anteriores e a falta de identidade dessa etapa. Além disso, ocorre uma perda de vínculo entre o aluno e o professor, devido à passagem de um formato em que há um professor polivalente para um modelo com diferentes professores para cada disciplina, em um momento da vida de muitas mudanças para o próprio aluno – o início da adolescência. Isso pode levar a sérias descontinuidades pedagógicas.

Nesse sentido, para avançar é essencial investir na formação e na carreira docente. O professor, esteja ele saindo da licenciatura ou já em exercício, deve estar preparado para lidar com os diferentes níveis de aprendizagem de seus alunos e para conduzir múltiplas estratégias de ensino – amparado, ainda, por boas condições de trabalho.

É fundamental também manter um olhar atento sobre as desigualdades, com políticas bem estruturadas para apoiar as escolas com piores indicadores. No Paraná, por exemplo, só 7% dos estudantes de nível socioeconômico baixo têm aprendizado adequado em Matemática no 9.º ano.

O desafio do Paraná e do restante do Brasil é mudar o capítulo da educação brasileira: continuar no caminho da universalização do acesso, mas colocar no centro do alvo a qualidade do ensino com equidade para todas as crianças e todos os jovens, independentemente da origem e da situação socioeconômica. E isso se faz com políticas focalizadas nas situações mais críticas, construindo uma educação que garanta um aprendizado pleno de sentido para o aluno e investindo com determinação no professor.