Por Tomás da Nóbrega*

As políticas de leitura seguem mais e mais uma lógica que procura, em primeiro lugar, a eficiência, a racionalidade, a profissionalização, sendo resultado da organização histórica da cadeia da leitura. Assim saio dos encontros com o Prof. Dr. Max Butlen (Université de Cergy-Pontoise).

O primeiro ponto para política de leitura se relaciona à oferta. A expansão na quantidade de livros é indispensável para constituir uma sociedade leitora. Nas últimas décadas houve esse crescimento na disponibilidade; norteado pelo mercado editorial, centrado na venda, no lucro e no incentivo ao consumo. Inclusive, o mercado editorial parece ter força para perpetuar a existência do livro no mundo contemporâneo. Vale pontuar que apesar do aumento na quantidade de títulos e do total de livros, a tiragem por título caiu – ou seja, a vida média do livro caiu.

Além da oferta, há que pensar de maneira geral sobre a rentabilização das políticas de leitura. Se por um lado temos o mercado de livros que incentivam a venda, por outro lado, temos as políticas de leitura que incentivam práticas de leitura. E, por meio da leitura, formam cidadãos aptos ao debate, ao pensamento crítico, à racionalização. Abrem as portas para a formação cultural. A prática de leitura permite conhecer melhor os outros e o mundo, ler o mundo para, assim, conseguirmos conhecer melhor nós mesmos.  Existe algo adicional ao interesse econômico.

Assim, não há como falar apenas em mercado, há que falar também em políticas públicas. As políticas públicas surgem a partir de uma construção feita sobre problemas sociais e culturais. Atores sociais percebem um desvio sobre o que é e o que deveria ser e denunciam essa situação. Pouco a pouco, essas denúncias sobem, de uma minoria militante, para a maioria. E dali para a agenda pública, administrativa e política – que é quando há a institucionalização do problema. Anos depois, é possível ver se o problema está resolvido ou não. Não estando, começa-se a reconstruir o problema. Por exemplo: desigualdade econômica, a questão do aborto, machismo, assédio sexual, no trabalho. São problemas que ganham evidência e se tornam focos de políticas públicas por meio da construção social.

A própria democratização da leitura é uma construção social. Iniciou com militantes que denunciaram a falta de democratização, essas denúncias foram adotadas pela maioria e acabaram virando políticas públicas. E quando se torna um eixo de políticas públicas, há vantagens e inconveniências. Se, por um lado, há maior força e fôlego para as políticas de leitura, por outro, aparecem discursos vazios e práticas sem preocupação com a eficácia. Nesse ponto há algo que teve de se rever nas políticas de leitura: focaram apenas no material físico. Com o tempo, claro, percebeu-se que ter mais livros não é suficiente para formar leitores mais competentes, e, portanto, o objetivo das políticas não fora resolvido plenamente.  É nesse ponto que há uma reconstrução do problema social, onde fica evidente a necessidade da mediação, para facilitar e introduzir os jovens no mundo literário.

Estamos em um ponto que não é possível falar em uma política única de incentivo à leitura, mas múltiplas políticas, cada vez mais analisadas de formas objetivas. Há a universalização das políticas, com necessidade de produção de saberes e disseminação desses conhecimentos. O papel do mediador é exposto por grupos de pressão. Há políticas cada vez mais profissionais, que objetivam tornar os programas cada vez mais eficientes. E nesse sentido Max Butlen nos ajuda a contextualizar as políticas de leitura historicamente.

Ao final, tive oportunidade de fazer uma pergunta. Como focou-se muito no livro, perguntei sobre os novos formatos de leitura. Surgem novos desafios: como filtrar informações? Qual informação é confiável? Qual o papel da biblioteca?

Para Butlen, a biblioteca e os profissionais deverão se readaptar para esses novos desafios. Há uma agenda sobre como transformar a biblioteca em espaço de desenvolvimento da cultura e da informação. Existem papéis que se mantem, e que devem ser reafirmados, como o conhecimento do bibliotecário para mediar a criança no processo; mas há uma parte nova, ajudando na construção da informação. É necessário conjugar as práticas antigas com as práticas novas. Formação à leitura clássica e formação à leitura digital.

 

* Tomás da Nóbrega é bacharel em Economia pela FEA-USP e analista na Somos Educação.