Grupo de produção do Documentário “Professor, Por quê?”

Gabriela Thomazinho, Cecilia Zahran, Jackeline Dias, Guilherme Proença, Claudio Mello, Ananda Chaves

 

Qualquer pessoa que decide por um profissão vai colocar nos dois lados da balança as suas vantagens e desvantagens. Vários aspectos podem pesar na decisão: mercado  e condições de trabalho, salário, paixões e sentimento de identificação pela atividade, experiências anteriores, pessoas próximas com a profissão. Hoje, no Brasil, muito se diz sobre a profissão docente estar desvalorizada. Mas por quê? O que os estudantes que estam prestes a escolher a carreira pensam na hora de decidir ser ou não ser professor?

A pesquisa de Bernardete Gatti e outros pesquisadores  buscou entender por que está decrescendo o interesse dos jovens por ser professor, investigando qual a percepção que eles têm sobre esta profissão. Entre aqueles que optam por ser professor, há uma predominância de valores altruístas e de realização própria, como por amor ao conhecimento, aos alunos, o dom e a vocação. Também ressaltam o valor social da profissão, colocando o professor como agente de transformação social. Porém, vários fatores repelem novos profissionais ou se colocam como frustração àqueles que entraram, como os baixos salários, a precarização do trabalho docentes, a violência na escola.

Quanto à percepção que os jovens têm sobre “ser professor”, a profissão é altamente associada a aspectos negativos, como um profissional que sofre, por conta de fatores como o baixo salário, a carga horária excessiva, a desvalorização social, a violência e o desrespeito a que são submetidos na escola. Olham a profissão docente como cansativa e exigente, exigindo um sacrifíco grande demais para o tamanho do salário. Ao mesmo tempo, alguns alunos criticam os professores de que estes não teriam expectativas positivas sobre os alunos, o que refletiria negativamente na qualidade de suas aulas, gerando um ciclo vicioso. Por outro lado, também é consenso entre os concluintes a relevância social da profissão docente, profissão nobre na medida que faz parte da formação do indivíduo. O papel como formador de opinião e de educador é valorizado. A gratificação da profissão viria justamente do retorno dos alunos.

Diante de todas as dificuldades do “ser professor” anteriormente apontadas, os alunos afirmam que para ser professor é necessário gostar muito da atividade, além de ter o dom e vocação.  Ao serem questionados se consideram a docência como possibilidade de escolha profissional, apenas 2% dos estudantes questionados colocaram pedagogia ou alguma licenciatura como primeira opção. Chamou a atenção dos pesquisadores o fato de que quanto maior a escolaridade dos pais menor a probabilidade de ter a docência como primeira opção..

Quando questionados se já pensaram em algum outro momento em ser professor, a porcentagem cresce bastante: 32%. A principal razão apontada como motivo para ser professor é a possibilidade de transmitir conhecimento (40%) e o interesse em uma área específica do conhecimento (19%). Poucos dão como motivação a afinidade com a carreira docente (14%)

A pesquisa também questionou aos alunos por que não ser professor, isto é, quais as desvantagens da profissão?. Para estudantes que já pensaram em ser professor, pesa bastante a baixa remuneração, a desvalorização social e o desrespeito por parte dos alunos. Além disso, outro aspecto que desmotiva os jovens é a imagem que passam os seus próprios professores, que por vezes desestimulam os jovens a seguir essa profissão.

Quando questionados sobre a opinião da família caso decidissem pela profissão professor, a maioria diz que a família iria apresentar argumentos contrários, principalmente de ordem financeira. Ainda assim, os alunos apontam que o apoio da família depende muito da origem social desta. Para famílias de baixo nível socioeconômico a carreira de professor pode representar uma ascensão social, e, dessa maneira, o estudante que ingressar nessa carreira obtém o apoio da família.

Paula Lousano, Gabriela Moriconi e Romualdo Oliveira investigaram em estudo de 2010 por que o Brasil encontra problemas para selecionar e contratar bons professores, comparando com países com bom desempenho dos alunos em provas internacionais. Os autores chegam a conclusão que os incentivos financeiros dados a quem opta por essa profissão são insuficientes, e ainda a baixa reputação social da profissão.

“a pesquisa qualitativa sugere que o benefício mais significativo oferecido – estabilidade no emprego para os contratados – não é suficiente para compensar as condições negativas de trabalho, como o pouco  reconhecimento público, e o baixo status, além dos baixos salários e poucas oportunidades de influenciar as políticas públicas, especialmente aquelas que afetam o trabalho docente em sala de aula.”

p. 548 e 549

Uma das consequências da baixa atratividade da carreira docente é que ela deixa de atrair alunos entre aqueles que desempenham melhor no ENEM. Já países como a Finlândia, país conhecido por excelentes resultados no PISA, seleciona seus professores dentre os 10% melhores alunos das universidades. Outro país apontado pelos autores como um sinal de que aumentar a atratividade da carreira pode gerar uma melhora na qualidade educacional é a Inglaterra, que elevou a qualidade de sua educação por meio de fortes investimentos na atratividade da carreira docente e na formação de seus professores.

José Pinto buscou investigar mais a fundo a questão da falta de professores que acomete boa parte das redes públicas. Ele questiona se causa desse problema é o número insuficiente de professores formados em licenciatura ou aqueles que se formam buscam outras carreiras que não a docente?

Para estimar a demanda por professores na educação básica, utilizaram-se os dados do Censo Escolar de 2012 (INEP) e constatou-se uma necessidade de 1,38 milhões de docentes em creches, pré-escola e anos iniciais do ensino fundamental, demanda essa que é facilmente suprida se mantivermos o ritmo de profissionais formados entre 2001 e 2010 (869.000).

Para os anos finais do ensino fundamental e ensino médio, o autor realizou uma estimativa de demanda a partir de uma jornada de 40 horas semanais, sendo um terço dela destinada a atividades extraclasse. Cruzando essas informações com os dados de concluintes de cursos de licenciatura fornecidos pelo Censo Escolar (INEP), foi possível concluir que, com exceção da disciplina de Física, todas as outras apresentaram um excedente de professores. Se contabilizadas apenas as vagas em universidades públicas, essa demanda já seria suprida, fato que escancara a falta de atratividade da carreira docente no Brasil.

Como fazer então que mais jovens se sintam atraídos pelo SER PROFESSOR?

O estudo de Gatti e outros pesquisadores sugere dois conjuntos de proposições de políticas públicas e ações para a valorização da carreira docente. O primeiro conjunto se dá pela dimensão cultural, e envolve resgatar no imaginário social a valorização do “ser professor” por meio de ações midiáticas e outros movimentos, valorização dos cursos de pedagogia e de licenciatura; definir mais claramente o conhecimento específico da docência. O segundo conjunto de mudança é de ordem estrutural e institucional, envolvendo ações como participação dos professores no plano da formulação das políticas educacionais e no desenho da carreira docente, profissionalização da carreira associando saberes específicos a ela, estabelecimento de mecanismo de progressão na carreira que mantenha o professor em sala de aula (não tirando-o, como é hoje), mudar condições de trabalho e salário docente, políticas de formação continuada focadas nas necessidades dos professores e formatadas em articulação com eles a partir de suas demandas e maiores parcerias das escolas com as universidades.

 

Referências Bibliográficas:

GATTI, B. A. et al. A atratividade da carreira docente no Brasil. São Paulo: Fundação Carlos Chagas; Fundação Victor Civita, 2009. [Relatório de pesquisa].

Rocha, Valeria; Moriconi, Gabriela; Oliveira, Romualdo Portela. Quem quer ser professor? Atratividade, seleção e formação docente no Brasil. Estudos em Avaliação Educacional (Impresso), v. 21, p. 543-568, 2010.

PINTO, J. M. R. . O que explica a falta de professores nas escolas brasileiras?. Jornal de Políticas Educacionais , v. 9, p. 3, 2014.