Voltei à escola pública onde cursei o ensino médio, agora observando com outros olhos o que vivi entre 2007 e 2010 na E.E. Prof. José Monteiro Boanova. Contatei em uma quarta-feira, dia 28 de outubro de 2015, a Profª Renata, coordenadora pedagógica da escola há quase 15 anos, e portanto, já presente na minha época de aluna. Marcamos a conversa para 6:30 h da manhã da terça-feira seguinte, pois aquela semana estava muito conturbada com o período de matrícula e com os feriados.

Ao chegar, a porta de entrada estava fechada, e alguns alunos aguardavam na chuva do lado de fora. Nesses minutos de espera, conversei com uma funcionária da secretaria que também esperava. Ela me contou que o horário de abertura do portão variava, normalmente se dava entre 6:30 h e 6:40 h, mas que já aconteceu de abrirem somente às 8:00 h. As aulas da manhã se iniciam as 7:00 h.

Entrei as 6:35 h e aguardei no banco de espera da secretaria. Na parede alguns avisos e alguns trabalhos realizados pelos alunos, entre eles dois me chamaram a atenção: o primeiro era sobre a criação de um jornal por alunos da 7ª série com um conteúdo que girava em torno de piadas, horóscopo e notícia sobre o casal Angélica e Luciano Huck; o segundo era uma aula especial em um sábado sobre biologia.

A Profª Renata chegou logo depois e disse que é bom receber ex-alunos, mas a nossa conversa não deveria demorar, pois de manhã é sempre corrido.

Primeiramente, tive interesse em saber mais sobre ela, algo que nunca tinha passado pela minha cabeça enquanto aluna. Formada em biomedicina, ela costumava ser pesquisadora, mas por uma alergia a mercúrio teve de se afastar do laboratório e seguiu carreira de professora no Estado de São Paulo. Em pouco tempo surgiu uma vaga para coordenação, que ela conseguiu após um processo seletivo. Ela me contou que hoje em dia já não há mais a necessidade de passar por uma prova seletiva como ela fez, já que há bastante dificuldade para encontrar alguém para ser coordenador.

Ela espontaneamente começou a falar sobre a escola. Disse com orgulho que a escola mantem-se em boas colocações no ENEM e no Saresp. Comentou com alegria o fato de alguns alunos, por volta de 4 ou 5, passarem em grandes universidades como a USP. São cerca de 60 alunos no 3º ano do ensino médio. Com os ditos bons resultados para os padrões de uma escola pública, a procura por matrículas e o número de alunos tem crescido, na contramão da tendência das demais escolas. O Boanova, como é chamada, tem aproximadamente 800 alunos, divididos entre as séries do ensino médio no período matutino e do ensino fundamental II no vespertino. A escola localiza-se em um bairro residencial de alto padrão na Zona Oeste, Vila Leopoldina, mas recebe alunos de diversos bairros da periferia, como Morro Doce, Perus, Pirituba e do município de Osasco.

Passamos para uma conversa sobre os espaços da escola. Relembrei que uma sala de informática e uma sala com projeção de vídeo foram instaladas nos anos que fui aluna. Ao mesmo tempo, recordo-me de salas de aula sem vidros nas janelas, fazendo a turma se concentrar nos lugares secos da sala nos dias chuvosos. Não havia cortinas suficientes, outro problema, agora nos dias de sol forte, e os ventiladores estavam quase todos quebrados. Esses problemas, segundo ela, ainda persistem. A sala de informática fica ociosa, pois conta com apenas um monitor no período da tarde, o que impossibilita o uso da sala pelas turmas da manhã. Nesse ponto a Profª Renata ficou perceptivelmente bastante decepcionada e citou a indisciplina dos alunos. De acordo com seu relato, a escola inicia o ano letivo arrumada, com uma boa estrutura, mas os alunos acabam depredando aquilo que foi instalado no começo do ano. Tem sido cada vez mais difícil que os alunos tenham algum acompanhamento em casa, de forma que a educação, que deve ser construída em dois âmbitos – casa e escola -, fica com apenas a base escolar. Eles recebem alunos de diversos perfis, uns que apresentam claro apoio da família e outros que se encontram em situação bastante vulnerável, até mesmo sob Liberdade Assistida. A relação dos pais com a escola é bastante fraca ou inexistente, e conforme o aluno avança pelas séries, cada vez mais os pais se afastam da escola. Apesar desse cenário, ela se mostrou esperançosa ao dizer que a última reunião de pais e mestres teve presença acima da média histórica, mas não soube me dizer quais seriam esses números.

Sobre os professores, recordei que minha turma teve raríssimas aulas de física durante os três anos do ensino médio. Esse problema parece persistir, mas a Profª Renata disse que eles “tentam se virar como dá”. Na falta de professor, por vezes ela assume as aulas e passa conteúdos de química ou convida alguém de fora que possa dar alguma matéria para os alunos. O Boanova tem um corpo docente de aproximadamente 40 professores, em sua grande maioria efetivos. Parece existir um sistema de avaliação dos professores pelos outros professores da casa em conjunto com coordenadores e funcionários, mas tive a impressão de que não é aplicado, pois ela não sabia me informar como funcionava.

Durante a nossa conversa, a sala da coordenação e a secretaria estavam bastante movimentadas. O horário de tolerância a entrada dos alunos estava quase chegando ao fim e nós encerramos nossa conversa. Antes de me dirigir ao portão, fui apresentada à atual vice-diretora, que ao saber que eu estudei na USP, ficou interessada e começou a tirar dúvidas, pois tem uma sobrinha que está na fase pré-vestibular. Suas perguntas eram bastante básicas e confusas, como por exemplo se a sobrinha deveria prestar o exame da Fuvest ou da USP, sem saber que se referem a mesma coisa. Nossa conversa foi interrompida pela chegada de alguns alunos atrasados e a Profª Renata saiu para pedir justificativa do atraso. Me despedi e ela pediu que eu voltasse mais vezes, disse gostar de manter contato com ex-alunos.